O escritor, a multidão e a Capela Sistina
05/10/12 18:09Em geral, quando o assunto é limite de acesso a turistas, trata-se da proteção de ecossistemas frágeis ou da ação nefasta da visitação em massa sobre a natureza.
Mas, no fim de setembro, a medida foi sugerida para uma das maiores atrações turísticas do mundo. O escritor Pietro Citati, conhecido biógrafo e ensaísta italiano, sugeriu em artigo para o jornal Corriere Della Sera que o acesso de turistas à Capela Sistina fosse reduzido.
(Pier Paolo Cito/Reuters) A Capela Sistina preparada para receber cardeais para a escolha do papa em 2005
Segundo o escritor, a massa de turistas – “rebanhos bêbados”, em suas palavras – danifica os delicados afrescos de Michelângelo e impede sua contemplação.
Para Citati, a maneira de impedir danos aos afrescos do século 16 é limitar a entrada de turistas. A capela recebe cerca de cinco milhões de visitantes ao ano. A sugestão do autor é dividir esse número por “quatro ou cinco”.
O diretor dos Museus do Vaticano, Antonio Paolucci, respondeu ao artigo de Citati no jornal da Santa Sé, “L’Osservatore Romano”, afirmando que limitar as visitas à Capela Sistina é “impensável”.
Paolucci afirmou que os problemas apontados por Citati são comuns aos grandes museus, e que a época em que apenas grão-duques russos, lordes ingleses ou peritos conseguiam acesso a obras-primas artísticas acabou de vez.
Para enfrentar o turismo de massa, disse o diretor, o número de seguranças foi triplicado, e está em andamento um estudo para a renovação dos sistemas de ventilação e de remoção de umidade da capela.
Mas a limitação da entrada de turistas está fora de questão: “A Sistina não é só um lugar artístico, mas também uma capela consagrada, um compêndio de teologia e um verdadeiro catecismo representado por imagens”, afirmou Paolucci.
E você, concorda com Citati ou com Paolucci?
Citati tem razão. Inúmeros locais fazem isso. Na própria Itália, a visitação à última ceia de Leonardo da Vinci em Milão é restrita em número de visitantes e a venda dos tickets de entrada é feita com antecedência por telefone ou internet.
A minha visita ao Palácio de Versalhes na França foi um pocuo traumática. Havia MUITA gente. A irritação toma conta de nós. Tanto que não aproveitei tanto a visita quanto gostaria, nem pude contemplar a beleza da Sala dos Espelhos com calma.
Outro exemplo é a trilha inca no Peru, que limita a quantidade diária de pessoas.
Limitar não é tirar direitos de ninguém, e sim ter bom senso e idéias de planejamento, organização e preservação das obras-primas da natureza e do homem.
Citati está certissimo. Acho que muitos que visitam a Capela Sistina saem com essa impressão. Eu visitei há 2 anos e voltei para casa com um misto de emoção, irritação com o desrespeito dos visitantes e com o descuido do Vaticano.
A minha impressão é que o cuidado do Vaticano com todas as obras artisticas do Museu Vaticano e da Basilica de São Pedro são *unicamente* religiosas. Eu entendo que o sentimento religioso seja o motor tanto dos visitantes como dos cuidadores das obras do Vaticano. Mas do jeito que as obras são cuidadas corremos o risco de danificar seriamente as obras por lá.
Limitar visitas de modo algum é querer afastar os turistas. É necessário constatar que devemos considerar os limites do local, para que mais e mais pessoas possam continuar visitando o local e apreciar as pinturas de Michelangelo.
A capela fica sempre superlotada. Quando estive lá, tive a sensação de estar em um estádio de futebol lotado. É até difícil apreciar o local dessa maneira. E o único cuidado que os poucos guardas da sala tomavam era pedir silêncio (com razão, pois o local é sagrado para a ingreja católica) e para ninguém tirar fotos, o que na multidão é impossível de controlar.
Visitei vários museus grandes e em nenhum deles vi descaso (artistico e científico) com as obras de arte como nos Museus do Vaticano. Por outro lado, eu entendo a sinuca de bico do Paolucci: é como o prefeito de uma pequena cidade paradisíaca que precisa acabar com uma micareta pois ela está acabando com muita coisa boa da cidade, mas que recebe pressão economica de todos os lados para que a micareta continue.