Felizmente, a gestão Gilberto Kassab (PSD) não conseguiu ‘vender’ 20 terrenos e imóveis públicos em ‘troca’ de construir creches não se sabe bem quando e nem aonde…
Assim, os paulistanos foram poupados da senha dinamitadora que iria colocar abaixo, por exemplo, o chamado Quarteirão do Itaim: conjunto de prédios que, incluindo uma creche, a biblioteca Anne Frank, um teatro e um posto de saúde presta serviços à população e, desde décadas, ocupa uma área simpática e arborizada de 20 mil metros.
Mas com as eleições municipais no horizonte, é bem possível que um novo prefeito, a ser eleito em outubro, ressucite essa ideia infame entregar para construtoras privadas esse Quarteirão do Itaim que, afinal, é público.
Outrora um bairro de casinhas e de comércio de bairro, o Itaim-Bibi virou um cateiro de obras e viu crescer imensos espigões de gosto duvidoso sem planejamento urbano.
O mesmo acontece nesse momento com outros bairros: em Pinheiros, no largo da Batata, na Vila Madalena e na Pompeia, todos eles condenados e à mercê da demolição.
Na Vila Madalena, ao menos, um grupo de cidadãos tem se reunido no escritório do arquiteto Isay Weinfeld para reivindicar o tombamento de um quadrilátero compreendido pelas ruas Harmonia, Wisard, Fidalga e Aspicuelta.
Seria ótimo que a ideia vingasse. São Paulo está ficando uma cidade sem cara, além de ser uma metrópole caríssima, violenta, de trânsito caótico, sem ciclovias, sem áreas públicas de estacionamento e sem muitas áreas verdes e alternativas de lazer.
Há quem argumente que as velhas casinhas da Vila Madalena, de Pinheiros, do Itaim-Bibi e da Pompeia não têm “valor histórico” que justificasse o tombamento. Mas, se fossemos pensar assim, só o palácio de Buckingham poderia ser tombado (e ele fica em… Londres)!
Aqueles prédios, por modestos que sejam, fazem parte da história da cidade, documentam como as pessoas viviam e, ainda que não fosse pelo “estilo”, deveriam ser congelados para impedir o paredão de prédios que as construtoras estão erguendo por toda a parte.
Qualquer metrópole que se respeita zela para que a urbanização combine harmonicamente prédios, casas e parques.
Antropofágica, São Paulo destruiu nos anos 1940 seus principais prédios de taipa (o Pátio do Colégio e a Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, entre outros. Sim, eles foram refeitos com tijolos e concreto, mas perdemos os originais, o que foi uma lástima).
Nos anos 1970, outra onda de demolições e de verticalização mudou o perfil urbanístico da capital paulista, substituiu ruas comerciais por shopping centers, mudou indelevelmente o estilo de vida do paulistano.
Mas nada se compara com o que está acontecendo agora, com quarteirões inteiros sendo demolidos da noite para o dia.
Em nome da qualidade de vida do cidadão e da memória arquitetônica de São Paulo, não seria melhor congelar ou tombar tudo e, então, discutir caso a caso os prédios e espaços que deveriam estar à salvo da demolição orquestrada pelas grandes construtoras com o eventual beneplácito da Prefeitura?